sexta-feira, 11 de junho de 2010

Ministério Público investiga poda irregular de árvores

Relatório apresentado por engenheiros e endossada pela OAB e pela Proesp condena prática realizada pela Prefeitura.

O Ministério Público vai investigar os critérios adotados pela Administração para a poda de árvores em Campinas. A ação tem como base um relatório assinado pelo engenheiro agrônomo Carlos Alberto Gomes Henriques e pelo engenheiro florestal José Hamilton de Aguirre Junior, que condena as práticas de poda realizadas pela Prefeitura desde 2009.

A denúncia foi endossada pelo representante da Comissão do Meio Ambiente da OAB Campinas, Marcos Roberto Boni, e pela diretora da Sociedade Protetora da Diversidade das Espécies (Proesp), Márcia Corrêa.

Para os ambientalistas, a limpeza de terrenos e a poda das árvores, apesar de necessária em espaços urbanos, é realizada de forma abusiva pela Prefeitura e pode prejudicar a floração, frutificação e até a sobrevivência de algumas espécies.

“Desde 2009, o governo municipal tem efetuado a poda e a limpeza das áreas verdes de maneira agressiva ao meio ambiente. As árvores têm perdido, em média, um terço de suas copas, o que configura poda drástica. Isso prejudica a capacidade de absorção de carbono e até a sobrevivência da árvore”, afirma Henriques. “Os critérios técnicos da poda precisam ser revistos. A Prefeitura, ou não está ouvindo seus especialistas, ou eles estão equivocados”, disse.

O promotor de Justiça do meio ambiente, José Roberto Albejante, afirmou que os documentos apresentados pelos especialistas já estão sendo analisados no Ministério Público. “Constando um comportamento danoso, vamos agir para prevenir a recorrência desse comportamento”, afirmou.

A Câmara Municipal também está investigando o assunto e já emitiu um requerimento de convocação para o Secretário de Serviços Públicos, Flávio Augusto Ferrari, e para o diretor do Departamento de Parques e Jardins, Ronaldo de Souza, que deverão esclarecer os critérios de poda e extração de árvores em Campinas.

Prefeitura

O engenheiro agrônomo da Prefeitura responsável pelas podas, Luiz Cláudio Nogueira Mello, afirmou que o corte foi planejado e está ocorrendo na época correta, o que evita que as plantas sofram. Além disso, é aplicado um fungicida nas partes expostas dos troncos para evitar doenças. “Essa poda é uma abertura para a população. Com a vegetação alta ninguém tem coragem de passar por estas áreas durante a noite. Mas a vegetação volta, daqui quatro anos vai estar tudo fechado mais uma vez”, disse.

De acordo com o diretor do Departamento de Parques e Jardins de Campinas, Ronaldo de Souza, a poda está sendo feita de maneira correta, visando a segurança da população e sem prejudicar o meio ambiente. “É uma poda de condução que está dentro da lei de urbanização.” Para ele, a explicação para o impasse é política. “O período em que estamos é complicado. Como é ano eleitoral querem apagar o brilho do projeto de revitalização.”

Praça limpa

Nas últimas terça e quarta-feiras, os trabalhadores da Prefeitura estiveram nos canteiros centrais na avenida Aquidabã onde realizaram um Projeto de Revitalização e Urbanização, inclusive na ilha verde que fica em frente ao colégio Pio XII.

As copas das árvores foram levantadas, muitos galhos podados e três touceiras de bambus eliminadas. “Estes bambus estavam aqui há 30 anos, isso é uma riqueza, não tem razão para tirar daqui. As árvores que eles estão podando faziam sombra, sem elas as plantas rasteiras vão morrer. Vão tirar tudo para plantar grama e falam que é para melhorar a iluminação. Iluminação se resolve com poste, não com cortes”, afirmou Henriques, que estudou no colégio Pio XII e diz lembrar das touceiras daquela época.

“Aqui, nas touceiras de bambu, moravam alguns moradores de rua. Fora isso, o bambu tira muita água do solo. Por isso é importante elas serem retiradas”, afirmou o engenheiro agrônomo da Prefeitura. Segundo Mello, além da grama outras árvores nativas serão plantadas no local em até 20 dias.

Pesquisadora considera a ação abusiva

Segundo a professora Dionete Santin, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a poda de árvores em perímetro urbano é necessária, mas não da forma que é feita pela Prefeitura. “A poda é um mal que deve ser feito só quando necessário. Para evitar conflito entre galhos e a fiação elétrica, ou liberar a passagem de pessoas e veículo”, afirma.

Para a pesquisadora, a poda organizada em Campinas é abusiva e prejudica não apenas a planta, como também a população. “Antes, uma árvore dava uma sombra que gerava conforto ambiental, agora essa mesma árvore não gera quase sombra e não protege a população. A sombra é importante inclusive se você for pensar nos números de câncer de pele que só aumentam”. (PM/AAN)

Fonte: Priscila Medina
ESPECIAL PARA A AGÊNCIA ANHANGUERA
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